sábado, 16 de março de 2024

A Flor e a Paisagem



Blue Flowers - Grandville Redmond



Confundo a flor com a paisagem,
a luz me perturba os olhos.

Esses azuis,
simples e leves
sob a claridade,
esplendem a lembrança
              dalgum lugar
 cujo nome não me lembro.

O que agora me falta,
perdeu-se entre o descuido
                      e o sofrer,
naturalmente.

Confundo a flor com a paisagem,
mas já houve um tempo em que as distinguia
na perfeição possível de suas aparências.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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A REDESCOBERTA DA EDUCAÇÃO




por: Lara Brenner


Por toda a minha vida, aprendi que havia 5 vogais: a, e, i, o, u.
Estava confortável com a ideia, quando soube, já adulta, que havia 12, não apenas 5. Ao ler isso pela primeira vez, achei que o livro estivesse com erro de edição, ou que aquilo fosse uma piada estranha, mas era sério.
Naquele dia, aprendi que vogais pertencem ao campo da fonologia e designam fonemas (não grafemas). Elas se referem ao som produzido sem obstrução à passagem do ar. Fiz eu mesma o teste: aaaaa, eeeee, iiiii, ooooo, uuuuu. Realmente, o ar passava livremente por meu aparelho fonador.
Mas não eram 12?
Sim, respondeu-me o livro. É que as vogais se dividem em 2 grandes grupos: as orais e as nasais. As nasais representam sons que ocorrem quando há passagem de ar pela cavidade nasal; já as orais acontecem com essa passagem apenas pela cavidade bucal.
As orais são 7 ([a], [e], [é], [i], [o], [ó], [u]) e aparecem, por exemplo, em lá, besta, café, vida, ovo (som fechado), ovos (som aberto), blusa.
As nasais são 5 ([ɐ͂], [e͂], [õ], [ĩ], [ũ]) e aparecem, por exemplo, em lã, pente, ponte, índio, um.

quinta-feira, 14 de março de 2024

O Futuro de Tudo (3)




A linguagem empobrecida, empobreceu o pensamento que com ela adquire e exprime significação, e por entre este vazio nasceu e cresceu o pasmo dos deslumbrados.

A linguagem sofreu mutações e a capacidade da sua apropriação por parte dos seres já dominados inibe que dessa metamorfoseada realidade se possam dar conta.

Há um novo tempo e há um novo espaço de plurissignificações que em si muito contém a mercadoria do mundo ilusório.

A barbárie do simulacro antecedeu tanta inverdade que os seres confundidos e anestesiados se têm mostrado incapazes do exercício do questionar.

As migalhas que se foram aceitando do poder e da intectualidade que com ele privaram e privam, constituíram a primeira prova da mansuetude cerebral dos múltiplos inquilinos dominados neste sistema.

quarta-feira, 6 de março de 2024

O Tempo



Le Temps (1975 - Aki Kuroda



O tempo,
não o colhemos com a mão,
nem lhe damos pela cor.

E em silêncio,
ele compõe e decompõe,
pintor feroz de paisagens alucinadas.

O tempo,
digo com cuidado,
é esta lâmina ácida,
a lamber e mastigar,
atravessando, devagar, a carne das coisas.

Amigo, inimigo,
presença em sempre constância,
subir e descer poeiras na música em chamas,
o tempo é uma bailarina de flamenco à beira de um penhasco.



|Autor: Webston Moura|

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A Palavra Mágica







Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

*

Autoria: Carlos Drummond de Andrade, em Discurso da Primavera e Algumas Sombras (1977)

Ilustração: Um pote cheio de palavras, ©Sonja Wimmer



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SINTO SINTO







Falar, non falo galego
pero sinto.
As cousas da miña vida
son agarimosas,
As amo con todo ardor;
Son elas mesmasáquí, abaixo, alá,
tódalas mesmas, sinto
como almas.

Sinto o paxaro que vai voar
polo sendeiro, sinto as borboretas
cantando neses ramalletes,
sinto as margaridas que se pousan
neses prados, como se foran meus
Sinto, sinto....

*

Autoria: LUISA PAZ MONTENEGRO, in POETAS DO REENCONTRO II (2021)

Óleo sobre tela: Calypso, de George Hitchecock

*



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segunda-feira, 4 de março de 2024

POEMA DO FECHO ÉCLAIR







Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.

Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.


*
Autoria: ANTÓNIO GEDEÃO, in POESIAS COMPLETAS (1956-1967), prefácio de Jorge de Sena, (Sá da Costa, 1987); in OBRA COMPLETA DE ANTÓNIO GEDEÃO (Relógio d’Água, 2004; 2022)

*
Boletim Dep. Química-helium.fct.unl.pt
*
Nota: Filipe II teria de viver até aos finais do Séc. XIX para poder ter o seu fecho éclair 😊

*
Fotografia © Ishan Shah-unsplash
*




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O MOVIMENTO



Kinetic Object (1999) - Abraham Palatnik



O movimento
           desloca,
cria ordem e
de
    so  r
           dem,
retira da pausa
o músculo
e a língua,
              distribui
               o corpo
          pelo tempo,
refaz o espaço,
queima nosso olhar de vida.

O movimento,
se bem olhares,
não para - nem existe!

Peixes eletrizados,
mulheres,
carros,
nuvens,
aminoácidos na digestão,
                     a espera,
o grito,
o silêncio que se arrasta na folhagem sob a lua,
o beijo,
formigas devorando a presa,
nada lhe escapa.


|Autor: Webston Moura|


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sábado, 24 de fevereiro de 2024

Fazer Nada



Dolce far Niente (1904) - John William Godward




Nada que se tem às mãos,
como matéria de se estar.


Deixar os outros à sua mercê,
selvagens e puros, se puderem.

O vento açoita as cortinas das janelas - é viril.
As águas penetram o antes impossível.

Tudo se fecunda,
começo, meio e fim.

Estrelas nascem na imensidão do assombro.




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