A cidade de Russas necessita de um ABRIGO PÚBLICO PARA ANIMAIS ABANDONADOS, com clínica e profissionais adequados aos cuidados. Apoie essa ideia e exija dos nossos representantes políticos ações efetivas! A cada ano, dezenas de animais nascem e morrem, sem que haja uma política pública adequada que os proteja. Não podemos deixar que isso continue!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Canção de torna-viagem

Uma carta encontrarei
Debaixo da minha porta.
Ordem da Filha do Rei?
Feitiço da Moira Torta?

A carta não abrirei.
Talvez me seja fatal.
Mas sobre o leito há uma rosa,
Há uma rosa e um punhal.

Que fiz de bem ou de mal
Pelos caminhos que andei?
Qual dos dois, rosa e punhal,
É o da Princesa e o do Rei?

Ai, tudo a carta diria,
A carta de sob a porta...
Se não se houvera sumido
Por artes da Moira Torta.


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# Poema constante de Canções (Editora Globo, 1994)

│Autor: Mário Quintana
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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

UM AZUL SEM GAIVOTAS

Os oceanos estão mais quentes;
os tubarões, mais afoitos;
os corais, em acirrado branqueamento.
E o distraído praieiro, olhando o mar,
sem se aperceber que seu amor é exílio,
                                                            sonha.

Amanhã, dia de depois dos depois,
haverá uma cratera infinita,
fósseis de casais apaixonados,
restos de peixes, rastros de águas-vivas.
E um seresteiro insólito, à beira do precipício,
entoará remotos numa arcaica língua.

Não mais os mares, não mais gaivotas.

Meninas de azul correrão vestidas de vento
por sobre os ossos das manhãs possuídas de ausências.

O sol, ancião arquejante,
susterá, com brilhos definitivos,
os dias de navegações fantasmas.
De um cais resiliente, uma flor de pedra
jorrará terpenos remanescentes de antigos dias.

Anotadas em um caderno de folhas invencíveis,
estas palavras sem escuta que lhes ouça as lágrimas.

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│Autor: Webston Moura
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sábado, 6 de fevereiro de 2016

ÁQUEA FLUTUAÇÃO CANTANTE

Entre coisas que se tocam,
costuras e voos.


Um grão de areia: tomo-o nas mãos.
Minúscula vida inerte e muda
que carrega o tempo.
Posso desfolha-lo,
com imaginação e ciência.
Acordo seu íntimo e extinto fogo,
alma que fora junta de outras
amálgama carregada e resoluta,
sombra agora repousada sob a luz,
dura e frágil matéria que me fala.

Estamos um no outro?
Que conversa travamos,
misturas de tempo e força,
nós, naturezas bravas
que a vida adestra?

Dialogamos eu e o grão:
um olho, o quartzo;
o outro, emoção.

Sou humano,
e esta odisseia é demais
para ser apenas condição.
Olho o grão de areia,
que me fita com suas ausências,
e disto sei: sou humano.


│Autor: Webston Moura
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