quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Sei de uma ilha de ventos



Sei de uma ilha de ventos
onde os pássaros azuis
da solidão fazem festins
no oceano das águas velozes.
Fiquei na orla branca das ondas,
noveladas como búzios deslumbrados.
Estendida entre brumas
preciso desse silêncio,
das asas abertas do afastamento
de luas desveladas.



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# Poema constante de Parto com os Ventos (Kreamus, 2013)


Lília Tavares (1961)  é psicóloga clínica, há 24 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos. Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 Fusão Crepuscular e outros Poemas em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen", Lília é co-autora da Página "Poesia com Artes" e, neste âmbito, realiza  Encontros de Poesia e Artes em Oeiras. Tem criado eventos, prefaciado,  participado e/ou apresentado diversos livros de poesia de outros autores. Participou com outros onze autores em Rio de Doze Águas(Coisas de Ler, 2012), antologia prefaciada por Joaquim Pessoa. Publicou Parto com os Ventos (Kreamus, 2013), prefaciado por Carlos Eduardo Leal, RJ, e ilustrado com esculturas de arame de Simone Grecco, SP. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela.

Folha de Papel



Afundo-me numa folha de papel.
O meu corpo submergido
bebe a seiva da árvore.

Renasço à flor da pele.
Os meus olhos giram
o submundo da superfície.

Com o odor atenta-me o vento
do fim das chuvas.
O sol renasce um cravo
que liberta...


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# Poema constante de Rio de Doze Águas (Coisas de Ler Editora, 2012)


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Cláudio Cordeiro - Nascido em Coimbra, natural de Mortágua, poeta e estudante universitário na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, é autor de três livros, "Lágrimas da Alma" (Corpos Editora, 2010), "Olhos de Terra" (Corpos Editora, 2011) e "Um Tudo Nada Água" (Lua de Marfim,2011).
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CASA




A antiga casa que os ventos rodearam
Com suas noites de espanto e de prodígio
Onde os anjos vermelhos batalharam

A antiga casa de inverno em cujos vidros
Os ramos nus e negros se cruzaram
Sob o íman dum céu lunar e frio

Permanece presente como um reino
E atravessa meus sonhos como um rio



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# Poema constante de GEOGRAFIA (Caminho, 2004)

Autor: Sophia de Mello Breyner Andresen
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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

URGENTEMENTE





É urgente o amor
É urgente um barco no mar


É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos, muitas espadas.


É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.


Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.





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# Poema constante de AS PALAVRAS INTERDITAS-ATÉ AMANHÃ (Assírio e Alvim, 2012)
* Postado originalmente na página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen - clique (AQUI)

│Autor: Eugénio de Andrade│
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MENINA




luas 
praias de querer
ao longo dos meus braços
afastados pelo coral das rochas
duas
*

uma menina chupando
um rebuçado
descalça
de ter sol nos olhos
*

alguém chora o sentir
do mar
nos flancos das corças
e dos barcos
*
duas
as vezes que conto
pelos dedos
- sol e água
espelhos verticais
no sentir das margens
nevoeiro de noites
nuas




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* Poema constante de ESPELHO INICIAL (1960) e POESIA REUNIDA (D. Quixote, 2009)
* Post originalmente publicado na página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen - clique (AQUI).

Autor:  Maria Teresa Horta
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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O HOMEM SENTADO

               Sentado
em sua impassível  cadeira de balanço
defronte a casa,
                             aquele velho
                             é só um velho,
um escombro
que não perturba
as infinitas claridades do dia.

             Sentado,
            imóvel,
é um campo inerte
de tácito silêncio
que não produz
um mínimo pulso
no coração voraz das coisas.

               Seria.

Pois eis que uma mão
toca,
        abre esse campo,
        traduz em caos e inércia;
e o que antes
não-era,
não-estava,
                     pulsa,
                     devasta
o equilíbrio límpido do branco ―

penetraste, Poeta,
no arcaico engendro da vida!



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* Poema constante de O Pensador do Jardim dos Ossos (Expressão Gráfica e Editora, 2005)
* Sobre Dércio Braúna, acesse este (LINK)
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│Autor: Dércio Braúna│
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18/54




Estranha estação existe
Quando quero qualquer
Alumbramento, ascensão, acorde



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* Poema constante de Aliterar versos 20/60 + alguns instantâneos (Expressão Gráfica e Editora, 2013)




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Luciano Bonfim – Natural de Crateús-CE, vive em Sobral. Professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Mestre em Educação Pela Faced/UFC. Publicou: Dançando com sapatos que incomodam (2002); Beber água é tomar banho por dentro (2006) e Móbiles – hestórias e considerações (2007). Possui contos e poemas publicados em blogs e sites, revistas e antologias literárias. Em 2010 foi selecionado pelo programa Bolsa Funarte de Criação Literária Funarte/MinC, onde desenvolveu o projeto Caminhos do Sol [livro e exposição de fotografias]. E-mail: lucianogbonfim@gmail.com
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Manhã branca

Manhã branca,
tênue.
O mar é o meu vestido,
quase claro, quase volátil.
O ar é asa quase leve, quase nada.
Desnecessário é dizer-te
que te espero nas frestas
mais mornas da brisa.
Sonhei com uma corda
puxada pelos dois,
para que lado, esfumou-se...

Acredito que um dia o dia seja uno
e sejamos ambos a manhã.



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# Poema constante de Parto Com os Ventos (Kreamus, 2013)



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Lília Tavares (1961)  é psicóloga clínica, há 24 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos. Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 Fusão Crepuscular e outros Poemas em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen"Lília é co-autora da Página "Poesia com Artes" e, neste âmbito, realiza  Encontros de Poesia e Artes em Oeiras. Tem criado eventos, prefaciado,  participado e/ou apresentado diversos livros de poesia de outros autores. Participou com outros onze autores em Rio de Doze Águas(Coisas de Ler, 2012), antologia prefaciada por Joaquim Pessoa. Publicou Parto com os Ventos (Kreamus, 2013), prefaciado por Carlos Eduardo Leal, RJ, e ilustrado com esculturas de arame de Simone Grecco, SP. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela.
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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

DA DELICADEZA DE DEUS

[...] do mesmo modo como o queijo é feito
do leite, e do qual surgem os vermes [...]
Carlo Ginzsburg, O Queijo e os Vermes



Criar é uma grade brutalidade.[1]
Deus o sabe ―
                      por isso a vida.

Se falta irrigação
à minúscula carne de um recém-feto,
se falta a vital pancada
ao músculo que nos mantêm,
se morre uma besta estropiada:
                                        a delicadeza de deus
                                        põe os vermes
                                        a cantarem
                                        sobre tudo isso ―

e que dessa música faça-se tudo!


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1. HERBERTO HÉLDER, Ou o poema contínuo – “Poemacto – IV” (São Paulo: A Girafa, 2006, p. 119)
# Poema constante de Metal sem Húmus (7Letras, 2008)

│Autor: Dércio Braúna│
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NÉON



Luz descerrada e crua
Que não rodeia as coisas
Mas as desventra
De fora para dentro

Espaço de uma insônia sem refúgio
Tudo é como um interior violado
Como um quarto saqueado
Luz de máquina e fantasma


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# Poema constante de Geografia (Editorial Caminho, 2004)


│Autor: Sophia de Mello Breyner Andresen
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

MANHÃ




Estou
E num breve instante
Sinto tudo
Sinto-me tudo


Deito-me no meu corpo

E despeço-me de mim
Para me encontrar
No próximo olhar.


Ausento-me da morte
não quero nada
eu sou tudo
respiro-me até à exaustão.


Nada me alimenta

porque sou feito de todas as coisas
e adormeço onde tombam a luz e a poeira


A vida (ensinaram-me assim)
deve ser bebida
quando os lábios estiverem já mortos


Educadamente mortos



(1979)




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# Poema constante de RAIZ DE ORVALHO E OUTROS POEMAS (Caminho, 2009)
# Originalmente, postado na página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen (Clique AQUI)

│Autor: Mia Couto
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